Os produtores de
Salinas, no norte de Minas Gerais, esperam que a Copa do Mundo de 2014 seja,
para a cachaça, o que a de 1986 representou para a tequila. Foi depois daquele
mundial que a bebida mexicana tornou-se mais conhecida no mundo todo.
Para alcançar o objetivo, eles
investem na implantação de polos de turismo, no uso de um selo
de procedência e na criação de pontos de revenda em grandes
cidades brasileiras. Deverão contar, ainda, com o investimento de
redes varejistas do país na divulgação dos produtos.
A região de Salinas -- que inclui, além da própria cidade,
Novorizonte e parte dos municípios de Taiobeiras, Rubelita, Santa Cruz de
Salinas e Fruta de Leite-- produz algumas das melhores cachaças do país,
segundo especialistas. Mais de 5 milhões de litros são fabricados ali todo ano.
Estrangeiro 'só conhece' caipirinha
Os produtos são envelhecidos em tonéis de madeira e feitos para serem saboreados sozinhos, e não como matéria-prima da caipirinha. Este diferencial é, ao mesmo tempo, a grande qualidade e o grande problema dos produtores de cachaça de alambique.
"O estrangeiro conhece muito a caipirinha, mas a
cachaça que a gente faz não é para caipirinha", diz Lucas Mendes, dono da
cachaçaria Tabúa.
Muitos consumidores também não estão dispostos a pagar o
preço cobrado pelas cachaças artesanais. Por serem produzidas em menor escala
(a maior parte dos alambiques não vende mais do que 20 mil litros por ano), os
valores são bem mais altos do que as dos produtos industrializados.
Isso faz com que elas fiquem restritas a um público
específico, de conhecedores e apreciadores. Os produtos da Tabúa, por exemplo,
são vendidos a preços que variam de R$ 27 a R$ 50. Outras cachaças, porém,
podem custar bem mais: uma garrafa da tradicional Havana, fabricada em Salinas
(MG) desde a década de 1940, chega a ser vendida por R$ 400 em algumas capitais
do país.
Fazendas querem oferecer roteiros turísticos
Mendes, da Tabúa, está construindo uma vila turística em sua fazenda, onde os consumidores poderão acompanhar a produção de cachaça e de outros produtos feitos na região, como rapadura e queijo. O local contará ainda com restaurante e bar. A intenção é que comece a funcionar a partir do fim do ano.
O projeto da Tabúa é o primeiro de uma série de planos que
deverão ser levados adiante com o apoio da Associação dos Produtores Artesanais
de Cachaça de Salinas (Apacs). A propósito, a cidade ganhou um museu dedicado à
cachaça no fim de 2012.
O desejo é obter financiamento para que todas as fazendas
montem pousadas e ofereçam turismo rural em suas terras.
A associação conta com a promessa da prefeitura da cidade
para a ampliação do pequeno aeroporto, para que seja possível receber aviões
com pelo menos 48 passageiros.
"É um processo que envolve uma mudança cultural dos
produtores. A expectativa é que gere um crescimento de produção de cachaça em
torno de 40% em dois anos", estima o presidente da Apacs, Nivaldo
Gonçalves.
Produtores terão revendas autorizadas em todo o
país
A Apacs também está buscando parceiros para atuarem como revendedores autorizados das cachaças de Salinas. Em dois anos, de 80 a 100 revendas deverão estar em funcionamento em todo o país.
Já existem contratos assinados nos Estados de São Paulo,
Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, e no Distrito Federal. Segundo a
associação, a ideia é apostar em cidades com mais de 300 mil habitantes.
"Atualmente, quase 90% dos pequenos produtores têm
muita dificuldade de divulgar e comercializar suas cachaças. No médio prazo, as
revendas deverão se tornar o principal canal de vendas dos pequenos produtores
associados à Apacs", diz Nivaldo Gonçalves.
Grandes redes de varejo também devem começar a dedicar
mais espaço ao produto em breve. O Grupo Pão de Açúcar promete, nos próximos
meses, promover degustações e treinar atendentes para que conheçam mais sobre o
produto e possam sugerir marcas e harmonizações aos clientes.
"Hoje, 300 lojas do grupo têm atendentes treinados
para vender vinhos. A ideia é fazer a mesma coisa com a cachaça", diz
Fábio Freitas, consultor de vinhos do grupo.
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